Existe relação entre personalidade, fenômeno do impostor e saúde mental? Um estudo com crianças
Jackeline Nogueira Santos
Ana Karla Silva Soares
Laura Pires Ferreira
Lívia Elena Cunha Laura
Renata dos Passos Costa Araujo
Na sociedade contemporânea, as crescentes exigências por desempenho acadêmico e sucesso profissional impactam significativamente a rotina escolar e familiar das crianças. Esse cenário pode levar ao fenômeno do impostor, caracterizado pela crença de ser uma fraude intelectual, apesar das evidências externas em contrário. Estudos anteriores com adultos e adolescentes mostram que o impostorismo está associado a sintomas como ansiedade, baixa autoestima e depressão, afetando a saúde mental, que é crucial para o bem-estar psicológico. Originalmente identificado por Clance e Imes em mulheres, o fenômeno também foi observado em diversas faixas etárias, incluindo a infância. Embora amplamente descrito como um fenômeno e não uma síndrome diagnosticável, o impostorismo tem sido associado a níveis mais altos de depressão e ansiedade. A saúde mental envolve não apenas a ausência de transtornos, mas também emoções positivas, engajamento em atividades prazerosas e um senso de propósito. A personalidade, conforme o modelo dos Cinco Grandes Fatores, pode influenciar como o impostorismo é experienciado e sua relação com a saúde mental. Estudos anteriores indicam uma relação entre impostorismo e diminuição da saúde mental, além de correlações com traços de personalidade. No entanto, a pesquisa sobre o fenômeno do impostor em crianças é limitada, com foco principal na dinâmica familiar. Este estudo busca preencher essa lacuna, examinando a relação entre impostorismo, traços de personalidade e saúde mental em uma amostra infantil. Participaram do estudo 299 crianças, com idade média de 11 anos (variando de 9 a 12 anos; DP = 0,98). A maioria dos participantes era do sexo feminino (59,2%) e frequentava escolas públicas (83%). Estes responderam a Escala Infantil do Fenômeno do Impostor, Questionário de Cinco Fatores para Crianças; Escala de Saúde Mental (versão reduzida) e questões de caracterização da amostra. Os resultados mostraram correlações positivas significativas entre o fenômeno do impostor e os traços de personalidade agradabilidade (r = 0,17), conscienciosidade (r = 0,20), neuroticismo (r = 0,41) e extroversão (r = 0,20). No entanto, não foram encontradas correlações significativas com domínios da saúde mental (bem-estar subjetivo). Esses achados sugerem a necessidade de medidas mais sensíveis para capturar o impacto do impostorismo na saúde mental infantil e indicam que tais efeitos podem emergir mais claramente em estágios posteriores da vida. A ausência de correlações significativas reforça a necessidade de mais pesquisas para compreender melhor como o impostorismo afeta o bem-estar psicológico das crianças e desenvolver estratégias de intervenção adequadas para apoiar seu desenvolvimento emocional.
Palavras-chave: personalidade, fenômeno do impostor, saúde mental, crianças
Disponível na íntegra: https://integra.ufms.br/files/2025/04/ANAIS-INTEGRA-UFMS-2024.pdf