Valores humanos, fenômeno do impostor e autoestima
Ana Beatriz Oliveira Manvailer
Ana Karla Silva Soares
Christian Godoi de Souza Santos
Jackeline Nogueira Santos
Laura Pires Ferreira
Na sociedade atual, as crianças são cada vez mais expostas a exigências e cobranças de pais e responsáveis para apresentar alto desempenho em diversas esferas da vida, como estudos, esportes e relações interpessoais. No entanto, esse modelo de exigência pode levar ao desenvolvimento de um fenômeno psicológico conhecido como o fenômeno do impostor, caracterizado pela crença interna de ser uma fraude intelectual, mesmo quando há evidências externas que contradizem essa percepção. Embora o fenômeno do impostor tenha sido inicialmente estudado em adultos e em contextos de sucesso, evidências mostram que ele também pode afetar crianças. Estudos têm demonstrado que o impostorismo está associado a uma avaliação negativa de si mesmo e a uma comparação constante com os outros, o que pode impactar negativamente a saúde mental e a autoestima dos indivíduos. A autoestima, uma avaliação subjetiva do próprio valor e das próprias habilidades, é um aspecto psicológico relevante no contexto do impostorismo. Pesquisas anteriores identificaram que baixos níveis de autoestima na infância têm sido associados a trajetórias negativas em várias dimensões da vida, incluindo afeto, depressão e satisfação com relacionamentos. Além disso, a compreensão de como a autoestima e o impostorismo se relacionam com outros fatores psicossociais, como os valores humanos, é limitada, especialmente em amostras infantis. Os valores humanos, que orientam comportamentos e expressam cognitivamente necessidades, desempenham um papel crucial na formação das atitudes e comportamentos dos indivíduos. Diante da escassez de pesquisas que investiguem a relação entre impostorismo, autoestima e valores humanos em crianças, este estudo tem como objetivo avaliar em que medida e direção esses fatores estão correlacionados em uma amostra infantil. Participaram do estudo 299 crianças, com idade média de 11 anos (variando de 9 a 12 anos; DP = 0,98). A maioria dos participantes era do sexo feminino (59,2%) e frequentava escolas públicas (83%). Estes responderam a Escala Infantil do Fenômeno do Impostor, Questionário de Valores Básicos - Infantil , Escala de Rosenberg de autoestima para crianças e questões demográficas (sexo, idade, escola). Os resultados identificaram que o fenômeno do impostor se correlaciona significativa e negativamente com autoestima e com as subfunções valorativas, demonstrando que, quanto menor o nível da autoestima, maior a probabilidade de haver uma direção positiva para vivenciar o impostorismo. Também é possível verificar uma relação significativa porém baixa entre a autoestima e as subfunções valorativas, o que ao correlacionar com o impostorismo, verifica-se que baixos níveis de autoestima contribuem para níveis reduzidos de importância e significação aos valores humanos, criando ocasião para o surgimento do fenômeno do impostor. Esses resultados fornecem uma compreensão mais profunda das dimensões psicológicas relacionadas ao fenômeno do impostor em crianças.
Palavras-chave: valores humanos, fenômeno do impostor, autoestima
Disponível na íntegra: https://integra.ufms.br/files/2025/04/ANAIS-INTEGRA-UFMS-2024.pdf