Existe relação entre fenômeno do impostor, a autoestima e o bem-estar? Um estudo com crianças
Renata Tereza dos Passos Costa Araújo
Rafaela Teodoro Alves
Ana Karla Silva Soares
José Ángel Vera Noriega
Apesar do fenômeno impostor não ser considerado uma doença ou enquadrado em manuais diagnósticos, sua vivência em níveis elevados é uma realidade complexa e debilitante que afeta indivíduos em uma ampla variedade de cenários e faixas etárias. As pessoas que vivenciam o impostorismo, justificam suas realizações por fatores externos, tais como sorte, circunstâncias favoráveis ou uma qualidade interna temporária, atribuindo a autoria de suas conquistas a elementos que não sejam suas habilidades pessoais genuínas, sua própria inteligência e capacidade, dessa forma, fortalecem a crença de que são impostores. Escassos esforços evidenciam que estes sentimentos impostores têm início em algum momento da infância, direcionando as pesquisas a essa faixa etária por considerar este, um período de desenvolvimento que pode contribuir de forma relevante para compreensão dos conceitos e das relações do fenômeno com outros construtos, a exemplo da autoestima e do bem-estar subjetivo. A autoestima pode ser compreendida como uma avaliação do autoconceito formado pelos pensamentos e sentimentos referentes a si mesmo, que podem ser de orientação positiva (auto aprovação) ou negativa. Enquanto o bem-estar envolve os julgamentos do indivíduo sobre sua vida como um todo e sobre domínios específicos, a exemplo do bem-estar subjetivo geral, que aglutina a análise de dimensões como o bem-estar hedônico (sentimentos subjetivos) e bem-estar eudaimônico (sensação de vida significativa); o bem-estar físico (experiência subjetiva de saúde física e satisfação das necessidades fisiológicas); bem-estar financeiro (satisfação com recursos materiais) e bem-estar social (apoio social). Nesta direção, visto que a internalização do sucesso pode resultar em prejuízos na saúde psicológica, a exemplo de menores indicadores de autoestima e bem-estar, o presente estudo tem por objetivo geral avaliar em que medida e direção o fenômeno do impostor se correlaciona com indicadores de autoestima e bem-estar. Para tanto, contou-se com a participação de 117 crianças, com idade média de 11 anos (DP = 0,96; variando de 9 a 12 anos), sendo a maioria do sexo feminino (63,2%). Estas responderam a Escala Clance de fenômeno impostor – Infantil; Escala de bem-estar subjetivoInfantil, Escala Rosenberg de autoestima para criança e questões demográficas. Os resultados identificaram que o fenômeno do impostor se correlaciona negativa e significativamente com a autoestima (r = -0,14), com o bem-estar financeiro (r = -0,19), social (r = -0,24), eudaimônico (r = - 0,23), hedônico (r = -0,37) e com o fator geral de bem-estar (r = -0,30). Assim, considerando os potenciais prejuízos do fenômeno do impostor no bem-estar infantil, sugere-se que uma compreensão mais aprofundada do fenômeno nos estágios iniciais de desenvolvimento é crucial para a concepção de estratégias de prevenção e intervenção eficazes que promovam saúde psicológica desde a infância.
Palavras-chave: fenômeno impostor; bem-estar; autoestima.
Sessão Coordenada: Saúde mental em diferentes contextos: Implicações na contemporaneidade