Tendências emergentes em valores humanos na infância: Estudo comparativo de 2018, 2021 e 2024.
Ana Karla Silva Soares
Eduardo França do Nascimento
Renata Tereza dos Passos Costa
José Ángel Vera Noriega
Os valores humanos podem ser definidos como aspectos psicológicos que cumprem a função de guiar os comportamentos e representar cognitivamente as necessidades humanas. Assim, visto que se formam já na primeira década de vida e repercutem sobre os comportamentos, atitudes, aspectos psicossociais e situacionais de jovens, parece de suma importância identificá-los nesta fase de desenvolvimento. Diante da relevância e da forma como as prioridades valorativas dos indivíduos são construídas, estima-se que a pandemia de COVID-19 impactou nos valores humanos das pessoas de diferentes faixas etárias, inclusive, nas crianças. O medo generalizado da doença e suas consequências ocasionaram respostas emocionais e comportamentais que variam desde a maior vivência de sentimentos positivos como solidariedade e compaixão, até aspectos mais negativos, como o medo e desconfiança. Além disto, a necessidade urgente de distanciamento social e isolamento alterou drasticamente as interações humanas, desafiando valores fundamentais como a afetividade, o apoio social e a convivências de crianças em todo o mundo. Diante disto, o presente estudo tem por objetivo geral avaliar o quanto as prioridades valorativas de grupos de crianças brasileiras se diferenciam em momentos prévios (2018), recentes (2021) e mais distantes (2024) da pandemia do COVID-19. Para tanto, contou-se com a participação de 457 crianças (N = 131 – 2018; N = 201- 2021; N = 117 – 2024) com idade média de 11 anos (DP = 1,09, variando de 9 a 12 anos), sendo a maioria do sexo feminino (59,7%). Estas responderam ao Questionário dos Valores Básicos – Infantil (QVB-I) e questão demográficas (sexo e idade). Por meio de uma análise de comparação de médias (ANOVA) considerando as subfunções valorativas, identificou-se diferença estatisticamente significativa nos valores de realização [F(2, 436)=35,50, p<0,05) e existência [F(2, 442)=7,29, p<0,05)], com o teste post hoc de Tukey revelando que no passar dos anos as crianças aumentaram a importância atribuída aos valores de realização (2018M = 3,09, DP = 0,98; 2021M =3,31, DP = 0,87 e 2024M = 3,99, DP = 0,72) e de existência entre 2018 (M=4,23, DP = 0,89) e 2021 (M = 4,39, DP = 0,56), mas reduziram a relevância atribuída entre 2021 e 2024 (M=4,06, DP = 0,84). Os resultados sugerem que a pandemia foi um fator importante para construção dos valores humanos na infância, especialmente no que tange a busca por autoestima, realização e necessidades básicas fisiológicas e de segurança. Estima-se que estes achados podem favorecer a construção de medidas que promovam saúde psicológica em crianças a partir da educação e escuta em valores humanos.
Palavras-chave: valores humanos; crianças; pandemia
Simpósio: Explorando os valores humanos em diferentes contextos: avanços e desafios